terça-feira, 30 de junho de 2009

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Universidade Federal Fluminense

Centro de Estudos Gerais

Instituto de Geociências

Graduação em Geografia

Departamento de Geografia

Geografia Econômica

Hélio Evangelista

 

 

Impactos da Crise Mundial no Estado de São Paulo

Laura Rios

Maria Luisa Pimenta

Pablo Campos

Thiago Bogossian

Niterói

2009

1. Introdução

A crise, que era financeira e se tornou econômica, hoje é considerada global e afetou diretamente os setores que mais necessitam do mercado externo. Com a retração do mercado internacional, regiões como São Paulo, que possui uma economia fortemente globalizada e é o mais rico estado do Brasil, foram diretamente afetadas pela queda da demanda, das vendas, das exportações e, na maior parte das vezes, as pessoas tiveram seus próprios empregos postos em cheque.

O trabalho a seguir pretende ser um ensaio de como que a crise mundial que começou em 2007, foi deflagrada em 2008 (com a queda do Lehman Brothers) e se arrastou em 2009 afetou o Estado de São Paulo, o estado mais rico do Brasil e mais inserido na economia globalizada. Serão apresentadas informações das consequências da crise na economia paulista e tentaremos observar as correlações entre as variações dos diversos aspectos da economia frente à crise global. Além disso, apontamos alguns casos que ficaram emblemáticos e registramos a percepção dos paulistanos sobre a crise.

Entretanto, para entender o protagonismo atual da economia de São Paulo frente aos demais estados da federação, é de fundamental importância compreender a formação econômico-espacial do estado. Para tanto, faremos um histórico das atividades econômicas de São Paulo, desde as expedições bandeirantes, passando pelo desenvolvimento fundamentalmente através da economia cafeeira até os dias de hoje.

2. Formação Econômico-Espacial do Estado de São Paulo

A partir do século XIV tem inicio uma série de transformações cientificas e filosóficas, que vão acabar culminando naquilo que convencionou-se chamar de Revolução Copernicana. Trata-se de uma ruptura com o pensamento dogmático e teológico dominante na Idade Média e o surgimento do Pensamento Moderno e da Ciência Moderna. As grandes invenções, o desenvolvimento dos instrumentos de medição, o surgimento dos paradigmas heliocêntrico e geocêntrico. É nesse contexto que as principais potências da Europa se lançam em sua “Expansão Marítima”.

2.1 O Início da Ocupação

Em 22 de Abril de 1500, uma frota portuguesa chega a terras desconhecidas, naquilo que depois veio a se chamar Brasil. Apesar da grande extensão de terra fértil, os portugueses não acharam nenhum indício de presença de riquezas minerais ou especiarias. Somente a partir de 1530 tem inicio a colonização do território recém-descoberto e em 1532 é fundada a primeira vila do Brasil, a Vila de São Vicente, na atual Baixada Santista. A busca por metais os levou a atravessar a Serra do Mar e, em 1554, foi povoada a Vila de São Paulo de Piratininga, que só ganharia esse nome seis anos depois, onde hoje é a atual São Paulo.

Em uma colina escarpada, entre as águas dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, foi fundada a escola dos jesuítas. A partir de 1560, após a visita de Mem de Sá, tem início o povoamento do pátio. A povoação foi estratégica, já que o local era alto e propiciava uma boa defesa dos contra-ataques e da resistência indígena. Alem da função político-administrativa, nesse contexto a vila passa a ter uma função militar, de defesa, reforçado ainda com a construção de um muro.

Os fatores naturais como o clima e o solo favoreceram a produção agrícola e esta, por sua vez, favoreceu a fixação no solo. As árvores frutíferas trazidas da Europa e aclimatadas na região, o trigais e algodoais, necessários a alimentação e vestuário eram as principais culturas além da criação de gado. Ali também se desenvolveu uma indústria rudimentar, moagem de trigo para pão e manufatura de tecidos, mas logo no fim do século XVI já estaria desaparecendo. A exploração de ouro de lavagem também teve inicio, mas de maneira muito incipiente. Como excedente da produção, a economia de São Paulo estabelecia comércio com outras regiões próximas, principalmente no litoral. Já no século XVII, a escravidão do indígena ganha grande importância comercial, resolvendo o problema da força de trabalho.

No século XVII, tem início a expansão das Bandeiras, atividade de grande importância não só para São Paulo, como para o Brasil como um todo. Durante aproximadamente dois séculos São Paulo foi uma das únicas vilas no interior do país. Impulsionado tanto pelo Governador Geral Francisco de Sousa, quanto pela iniciativa espontânea, os primeiros bandeirantes surgiram. As bandeiras foram uma das principais causas da interiorização da ocupação do território brasileiro, assim como causaram a expansão da área de São Paulo. Sua importância também foi reconhecida pois movimentou o mercado interno, tanto pela descoberta de novas riquezas naturais (por exemplo, o ouro nas Minas Gerais na virada do século XVII), quanto pela fundação de novas vilas e articulação econômica entre esses mercados. Essa ascensão da economia paulista despertou o interesse dos portugueses, que passaram a atribuir mais funções político-administrativas para a cidade, coincidindo com um período de decadência econômica e entrave urbano. São Paulo só chamaria atenção em aspectos econômicos só no século XIX.

Deve-se levar em conta ainda que Portugal, enquanto metrópole mercantilista, atravancava o desenvolvimento econômico de qualquer uma de suas colônias. Isso explica o fato de São Paulo (e o Brasil) ter tido um crescimento econômico tão ínfimo e lento, e tantas vezes embarreirado durante esse período.

2.2 A Economia Cafeeira

 

Concomitante à decadência da produção cafeeira do Vale do Paraíba, tem-se a ascensão em São Paulo, o famoso “Oeste Paulista”. As causas foram diversas, dentre elas podemos citar a disponibilidade de terra fértil (terra roxa) e clima favorável, predomínio da grande propriedade, presença de produtores com mentalidade e visão comercial burguesa e reinvestimento produtivo dos lucros.

A produção cafeeira era assentada na grande propriedade, monocultura, produção voltada para o mercado externo, mão-de-obra escrava, mas esta logo seria substituída pelos trabalhadores assalariados (muito mal remunerados) imigrantes, principalmente italianos e espanhóis. Esses trabalhadores têm uma grande importância para esse estado, principalmente na formação cultural e na construção da identidade do povo paulista, além de uma importância política, já que esses imigrantes foram os primeiros a organizar os trabalhadores na luta pelos seus direitos e pela destruição da sociedade capitalista. A maioria desses trabalhadores era composta por militantes anarquistas. Eles foram responsáveis pela fundação dos primeiros sindicatos, das organizações das primeiras greves (como a grande Greve Geral de 1917) e piquetes, além da construção de CCSs (Centro de Cultura Social), escolas livres e teatros populares. Por outro lado, muitos dos principais “capitães do parque industrial” da cidade de São Paulo eram imigrantes.

Os grandes lucros gerados pela produção do café, associado ao dinamismo e à visão comercial, geraram grandes transformações espaciais e econômicas em São Paulo. Com o aumento da produção, há uma necessidade de escoamento e os empresários e cafeicultores passam a investir na rede ferroviária. A primeira a ser construída foi a “Estrada de Ferro Inglesa”, que uniu a Capital ao Porto de Santos.

As estradas de ferro tiveram um papel destacado na historia de São Paulo pois a integração econômica entre os municípios cresceu, além do aumento da mancha urbana da cidade de São Paulo, possibilitou um melhor escoamento da produção e colaborou para uma maior internacionalização da economia brasileira. Esse excedente de capital também foi investido no Porto de Santos, tanto para sua expansão quanto para melhoria, em algumas pequenas indústrias e manufaturas, especialmente a indústria têxtil. Graças à expansão da economia cafeeira, ou do que alguns chamavam de “ouro verde”, no Oeste Paulista, o porto de Santos passou a ser o mais importante do Brasil. “Foi por esse mesmo porto que começaram chegar as maquinarias e as matérias-primas reclamadas pelo parque manufatureiro em gestação.” ( A Cidade de São Paulo, Vol. III, pág. 10).

O café gerou um relativo enriquecimento da população, contribuindo para a elevação do padrão de vida tantos das populações rurais quanto urbanas, o que acabou por gerar um grande acúmulo de capital, condição sine qua non para o surgimento dos primeiros surtos industriais do país. Entretanto, deve-se aqui fazer uma diferenciação quantitativa e qualitativa desse enriquecimento, tendo em vista que ele foi concentrado nas mãos da burguesia cafeicultora.

Um aspecto muito importante da produção cafeeira em São Paulo é a presença de capital estrangeiro (ver tabela abaixo), notadamente inglês. Isso acabou por intensificar esse surto industrial paulista, além de dinamizar a economia, tendo em vista que esses investidores ingleses possuíam uma grande visão empreendedora e grande disponibilidade de capital.  Segundo Pasquale Petroni, a partir dos anos de 1870/1880 São Paulo se tornaria a “Metrópole do Café”, rompendo com a antiga fama de “Burgo dos Estudantes”, fama esse devido à grande importância da Faculdade de Direito.

 

Tipo de Indústria

Proprietários

Brasileiros

Estrangeiros

Têxtil

4

6

Alimentação

6

16

Artigos de Vestuário

8

10

Metalúrgica e Mecânicas

7

8

Gráficas

-

6

Químicas e Farmacêuticas

6

6

Vidros e Cristais

1

12

Diversas

6

18

Total

38

70

Fonte: A Cidade de São Paulo, IBGE, pág. 13.

Durante a ascensão da economia cafeeira os produtores paulistas entram em um clima intenso de otimismo e a produção só crescia. No inicio do século XX, entretanto, o café brasileiro se depara com alguns períodos problemáticos de superprodução. Mas é com a Primeira Guerra Mundial que a situação se agrava. Sendo uma produção voltada basicamente para o mercado externo (majoritariamente europeu) e, estando estes países em guerra, a produção não tinha para onde ser escoada. Alguns anos mais tarde, com a Crise de 29, o Brasil se depara de novo com uma retração na demanda internacional. Esses dois períodos levam tantos os produtores, investidores e o próprio Governo a pensarem em alternativas econômicas para esse modelo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

2.3 Algodão, República, Geopolítica e Indústria

O algodão cumpriu um papel bastante destacado nos primeiros surtos industriais no final do século XIX. Os Estados Unidos eram grandes fornecedores de algodão para a Inglaterra, mas com o estouro da Guerra Civil, os EUA cessam a exportação. A Inglaterra, ainda ávida por algodão, passa a procurar um novo fornecedor e o Brasil aparece como a alternativa aos Estados Unidos. O País passa então a intensificar as lavouras de algodão, e também começa a investir na tentativa de estabelecimento de indústrias de tecido em solo brasileiro ainda em fins de século XIX.

A introdução do Regime republicano trouxe as ideias protecionistas, que passaram a ter grande adesão em determinados setores da burguesia. O próprio regime passa a criar tarifas alfandegárias em benefício da indústria nacional.

Os conflitos Nacionais também tiveram fundamental importância para a industrialização do Brasil. Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os grandes países industrializados que participaram do conflito se viram obrigadas a voltar grande parte de sua indústria para a “Economia de Guerra” (armas, alimentos, medicamentos...). Os conflitos marítimos, por sua vez, atrapalharam o tráfego, dificultando as relações comerciais brasileiras com a Europa e o Japão.

Dessa forma o Brasil, que era muito dependente do mercado externo, viu-se obrigado e fabricar seus próprios artigos que eram anteriormente importados. Assim se dá a chamada industrialização por substituição de importações. Podemos perceber, também, que “a interrupção dos suprimentos de além-mar eliminou a competição estrangeira e muitas novas indústrias foram instaladas para preencher o hiato e mesmo para suprir os mercados externos.” como afirma Werner Baer.

2.4 Industrialização

 

Em 1912, São Paulo já era o maior centro industrial do país, ultrapassando o Distrito Federal.


Estabelecimentos

Empregados

N. Médio de Empregados por Estabelecimento

Força Motriz

São Paulo

3.321

42.843

13

30.945

Distrito Federal

643

22.466

35

19.363

Rio de Janeiro

587

13.910

24

9.634

Rio Grande do Sul

1.199

9.256

8

5.088

Minas Gerais

732

9.786

13

7.093

Outros Estados

2.994

46.259

15

21.052

Total

9.475

144.520

108

93.121

Fonte: A Cidade de São Paulo, IBGE, pág. 33.

Como vimos anteriormente, durante o período da Primeira Guerra a indústria brasileira tem um salto quantitativo e qualitativo. Entretanto, essa situação não se mantém por muito tempo. Em meados da década de 1920, a indústria paulista se depara com um leve retrocesso. Isso se deve ao fato das indústrias europeias já estarem em processo de recuperação e ao alto custo e baixa qualidade do produto brasileiro (Baer, 1966, pág. 14).

Logo em seguida temos a Crise de 29. A Crise teve um forte impacto no mundo inteiro como também no Brasil. Os efeitos nas importações foram brutais, caíram de U$$ 445,9 milhões para 180,6 milhões em 1932. (Baer, 1966 pág.16). O café, que representava 71% das exportações, teve um sério impacto e foi a maior preocupação do governo. As autoridades brasileiras passaram a limitar as importações o que acabou gerando uma grande carência no mercado. Isso se tornou um forte incentivo para aumentar a produção industrial interna e, assim, o capital do café foi mais uma vez aplicado em outro setor. Já em 1933, o Brasil recuperava a produção industrial do período anterior a crise.

Também é em 1930 que temos a ascensão de Getúlio Vargas à presidência da República. O novo presidente teve um importante papel no processo de industrialização de São Paulo e, consequentemente, do Brasil. Vargas investe nas indústrias de bens duráveis e na chamada indústria de base, principalmente nas hidrelétricas, cimento e metalúrgicas. Assim, construiu as bases para um processo de industrialização mais profundo.

Em 1950, o número de operários em São Paulo elevou-se mais de 174% em relação a 1940 e o número do valo da produção aumentou mais de 7 vezes (A Cidade de São Paulo, vol. III. Pág. 37.). Em 1950, São Paulo já concentrava mais de 27% dos estabelecimentos fabris e mais de 38% dos operários do Brasil. Também concentrava cerca de 44% do capital empregado na industria nacional. As indústrias de alimentação e têxteis continuaram sendo as mais significativas, seguido das metalúrgicas e mecânicas, químicas e farmacêuticas, construção civil e materiais de transporte.

Com Juscelino Kubitschek há o grande desenvolvimento industrial do país. A historiografia tradicional aponta como o período onde, de fato, começa-se a industrialização do Brasil. Lançado em 1956, o Plano de Metas permitiu a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro: isentou de impostos de importação as máquinas e equipamentos industriais. O Plano também ofereceu uma generosa política de crédito na tentativa de estimular o mercado interno, promoveu um grande investimento na indústria automobilística, com a vinda de fábricas de automóveis para o Brasil (principalmente o ABCD paulista), incentivou a indústria naval, a expansão da indústria pesada, a construção de usinas siderúrgicas e de grande usinas hidrelétricas, como Furnas e Três Marias. Além disso, abriu as rodovias transregionais e aumentou a produção de petróleo da Petrobrás.

É neste período que vemos uma grande transformação espacial em São Paulo. O grande crescimento industrial trouxe consigo um intenso movimento migratório vindo principalmente da Região Nordeste para São Paulo. A capital não estava preparada para essa transformação, por isso ocorre um rápido processo da macrocefalia urbana. Nas proximidades dos vales do Tietê e do Tamanduateí, onde ficam os bairros da Mooca, Lapa, Freguesia e Tatuapé, começa a observar-se uma paisagem tipicamente industrial, com fábricas, galpões, bairros operários, ruas pavimentadas, chaminés e muita poluição. O centro de São Paulo começa a se dinamizar, ganhando mais lojas, ruas, edificações e fluxos de pessoas a cada dia e também tem o seu crescimento vertical acentuado. Nesse período, as diferenciações espaciais (dentro do paradigma funcional) se acentuam, ou seja, as diferenças entre o centro, as zonas de transição, os subúrbios e as áreas periféricas industriais se torna mais nítida.

A partir da década de 1960, chega ao Brasil a chamada “Revolução Verde”. Trata-se de uma série de transformações nas técnicas e nas tecnologias de plantio. O modelo se baseia na intensiva utilização de sementes melhoradas (particularmente sementes híbridas), insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização e diminuição do custo de manejo. Também é creditado à revolução verde o uso extensivo de tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita, assim como no gerenciamento de produção.

Essa transformação acaba gerando um forte impacto em São Paulo, como a concentração fundiária e de capital nas zonas rurais. Como só os grandes produtores podem investir nessas novas técnicas e têm acesso a crédito, os camponeses e pequenos produtores acabam sendo expulsos e migram para os grandes centros urbanos. Este êxodo rural para São Paulo agrava ainda mais os problemas de estrutura urbana da capital. Surge, assim, o agronegócio, que em São Paulo é feito com a laranja, a soja, o café e a cana-de-açúcar.

Durante os anos de 1968 a 1973, sob o regime de Ditadura Militar, o Brasil passou pelo que a Historiografia tradicional chama de “Milagre Econômico”. Durante esses anos, o PIB brasileiro cresceu á uma taxa média de 10% ao ano. As empresas estatais cresceram e, bem administradas, obtiveram lucros imensos. Entretanto, o “Milagre Econômico” só foi possível graças a um estrondoso arrocho salarial e uma extrema extração de mais valia dos trabalhadores de modo geral, que teve como consequência um aumento das desigualdades socioeconômicas, sobretudo com a forte concentração de renda. O milagre também agravou a questão urbana de São Paulo, pois foi nesse período que surgiram as primeiras favelas, principalmente na Zona Norte e Leste.

No final dos anos 1970 e inicio dos anos 1980 o estado de São Paulo passa por um processo de desconcentração industrial, ou seja, as grandes indústrias deixam de instalar suas fábricas e sedes na Grande São Paulo e passam a se instalarem no Interior, como Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São Carlos, Araraquara e Piracicaba. Isso se deve ao fato de São Paulo apresentar um custo elevado do solo urbano, grande concentração e competição de empresas e também pelo fato dessas cidades oferecerem incentivos fiscais e estruturas propícias a essas empresas. Inúmeros problemas urbanos como violência, poluição e ocupação desordenada também atuaram nesse processo de deslocamento industrial.

2.5 Panorama Atual

Atualmente, São Paulo apresenta o maior PIB do Brasil com mais R$ 727 bilhões, o que corresponde a 33,9% do país (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) e é o estado mais rico da federação. Seu PIB per capita é o segundo maior: R$ 19.548 (IBGE). Seu IDH é o terceiro mais elevado, com 0,833 (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD). São Paulo é o principal polo econômico e industrial da América do Sul e o maior mercado consumidor do Brasil. A parte mais significativa da economia do estado de São Paulo ainda é a indústria.

Entre 1980 e 2000, a grande maioria dos investimentos realizados no estado foi feita fora da capital. O interior, em especial o eixo entre Campinas - São Carlos - Ribeirão Preto - Franca -Sorocaba - São José dos Campos – Taubaté, torna-se industrializado e próspero. O estado possui não só o polo industrial da região metropolitana, mas também o do Vale do Paraíba (onde estão instaladas indústrias do ramo aeroespacial como a Embraer, indústrias automobilísticas nacionais, como a Volkswagen e a General Motors e indústrias de alta tecnologia.), da Região Administrativa Central (importante polo de alta tecnologia, com indústrias de diferentes áreas, como a fábrica da Volkswagen Motores, Faber-Castell, Electrolux, Tecumseh e Husqvarna), da Mesorregião de Piracicaba (presença de empresas de biotecnologia, cultivo de cana-de-açúcar e produção de biocombustível) e Região Metropolitana de Campinas (possui um forte e diversificado pólo industrial, com indústrias automobilísticas, indústrias de alta tecnologia, indústrias petroquímicas como a REPLAN e indústrias têxteis.)

São Paulo passa por uma grande mudança na sua estrutura econômica, passando de uma metrópole industrial para um pólo de serviços e finanças. As filiais brasileiras de grandes empresas multinacionais encontram-se na grande São Paulo, como a Volksvagen, Microsoft, Google e IBM.

A agricultura tem uma relativa importância na composição do PIB de São Paulo. A região é a maior exportadora de laranja e suco de laranja do país, uma das maiores produtores de café, soja, milho e algodão, além de ter produção de cana-de-açúcar destacada e a maior produção nacional de frutas (um terço do total). O Estado é responsável por um terço do PIB agroindustrial do Brasil.

O Estado de São Paulo é o segundo maior produtor nacional de frangos, com a marca de 900 mil toneladas. É responsável por 16% das aves de corte, 9% do rebanho de bovinos e 7% dos suínos do País.

São Paulo ainda apresenta o turismo muito desenvolvido. A capital paulista é o centro do turismo de negócios no Brasil, além de possuir a maior rede hoteleira do país. A cidade também conta com procura no turismo gastronômico, principalmente depois de receber o título de capital mundial da gastronomia. O turismo cultural também é destaque, principalmente entre brasileiros, visto que a capital é o maior centro cultural do país. O litoral, por sua vez, apresenta praias bastante requisitadas por turistas. Em relação as belezas naturais, o interior também apresenta uma imensa variedade, além de diversos pontos históricos.

A estrutura de transporte paulista é amplamente rica e diversificada. O estado de São Paulo possui uma malha rodoviária com mais de 32.000 km de vias asfaltadas, representando cerca de 17% do total da malha asfaltada do Brasil. As rodovias paulistas são consideradas as mais modernas e melhor conservadas do Brasil. A Confederação Nacional do Transporte, em uma pesquisa realizada em 2006, divulgou um ranking que coloca as rodovias de São Paulo, em comparação com as outras rodovias brasileiras, no topo em termos de estado geral de conservação.

São Paulo possui 3 grandes aeroportos, sendo 2 internacionais: o Aeroporto Internacional de Guarulhos (o mais movimentado do país), o Aeroporto de Congonhas (o aeroporto doméstico mais movimentado do país) e o Aeroporto Internacional de Viracopos (segundo maior terminal aéreo de cargas do país). Além disso, no litoral encontra-se o Porto de Santos (principal porto do Brasil e o maior da América Latina) e o Porto de São Sebastião, que serve de apoio ao porto de Santos.

O estado possui mais de 5 mil km de ferrovias (outrora operados pela extinta estatal Ferrovia Paulista SA), que se estendem desde as margens do rio Paraná até o porto de Santos, destinados ao transporte de carga. A região metropolitana de São Paulo é servida de trens com uma malha ferroviária de 257 km, composta por 6 linhas e 84 estações.

3. Como a Crise Afeta São Paulo: Reflexos Conjunturais

A crise financeira pela qual a economia global está passando possui suas origens no mercado imobiliário estadunidense e suas hipotecas subprime. A expansão do crédito imobiliário entre 2001 e 2004 redundou nos empréstimos de alto risco e, com a alta da taxa de juros em 2005, muitos desses devedores ficaram inadimplentes, considerando-se que os financiamentos são de longo prazo à juros variáveis.

Os bancos financiadores quedaram-se sem o respaldo desses pagamentos, necessitando que o Estado interviesse injetando bilhões na economia e, mesmo assim, muitos deles anunciaram falência. A crise, anunciada desde 2006 por alguns economistas, afetou duramente as bolsas de valores norte-americanas em meados de 2007 e foi causando impactos sobretudo nas economias capitalistas desenvolvidas.

A economia do estado de São Paulo começou a sentir os reflexos da crise internacional em meados de 2008, quando ela atingiu sua fase mais aguda, no mês de outubro, como pode ser visto no Gráfico 1:

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Gráfico 1: Oscilação na economia do estado de São Paulo

Os índices são calculados pela Federação das Indústrias do estado de São Paulo (FIESP) e disponibilizados ao público através de sua página eletrônica oficial. Eles mostram claramente como, a partir de outubro, os diversos parâmetros econômicos analisados, como o mercado, as vendas e os investimentos, sofreram retraída por influência da conjuntura internacional, atingindo o seu máximo em dezembro, quando começa a retornar à condição anterior. O Sensor Geral representa uma média de todas as variáveis pesquisadas. Vale observar os índices do Estoque, que não possui a mesma retomada das demais, interpretado como um acúmlo que deva ter ocorrido nos últimos meses.

Especialistas acreditam que a crise está entrando em uma fase de estabilidade (crise em ‘L’, quando há uma forte queda e período de estabilização, sem retomada rápida do crescimento) e há uma perspectiva de melhora da situação econômica dos EUA: os dados, p. e., do número de empregos, mostram-se mais positivos do que o previsto, assim como economistas revisam suas projeções para o mercado (Folha de São Paulo, 06/06/2009a).

De acordo com o economista Paul Krugman, a economia não está dando um sinal de recuperação, como nas crises em ‘V’, com rápido movimento de declínio e revitalização, mas sim se estabilizando, ou seja, ‘as coisas estão piorando mais devagar’ desde a recessão iniciada em dezembro de 2007, sendo ainda cedo para afirmar que a contração terminou (Folha de São Paulo, 06/06/2009c).

O mercado imobiliário paulista sentiu com força a crise econômica tanto do lado da oferta quanto da demanda: o número de unidades novas vendidas no estado caiu 20% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2008 e o volume de lançamentos no período sofreu uma retração de 46,6% sobre o ano passado, ambos representados no Gráfico 2.

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Gráfico 2: Reflexos da crise imobiliária no mercado local paulista

Tais ajustes foram impulsionados pela crise: a freada na economia fez o setor se regular a um novo patamar, já que o ritmo de seu crescimento entre 2007 e 2008 foi exagerado, e hoje a expectativa é que ele comece a se recuperar (Folha de São Paulo, 24/03/2009).

A partir desse desempenho negativo e exemplificando como os setores econômicos são interconectados, pode-se sentir no consumo de cimento (Gráfico 3) tal oscilação, que acompanhou a anterior e é um indicador importante da construção civil:

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Fonte: SindusConsp

Gráfico 3: O consumo de cimento variando em combinação com o mercado imobiliário (Gráfico 2)

3.1 Atividades Agrícolas

A produção agropecuária do estado de São Paulo caracteriza-se não só pela magnitude do seu valor de produção como também pela ampla diversificação de produtos, tanto de origem vegetal quanto de origem animal. Trata-se da produção agropecuária mais diversificada e a de maior valor do Brasil. Dessa forma, seus produtos são comercializados tanto no mercado varejista, sendo consumidos diretamente pelo mercado interno, quanto no grande mercado, onde se negociam, a nível nacional e internacional, commodities e outras matérias primas utilizadas por diversos setores industriais.

A análise dos impactos sofridos pela agropecuária paulista em virtude da atual crise, inicialmente financeira, internacional será feita a partir de índices que demonstram a variação nos preços dessa produção e nos custos da mesma, bem como na relação entre eles, a qual indica a rentabilidade dessa atividade. É importante lembrar que a formação do preço de um produto se dá em função de sua demanda no mercado. Dessa forma, observar sua variação permite inferir sobre a situação do mercado consumidor, quais os tipos de compradores reduziram suas negociações, quais mantiveram e até mesmo quais ampliaram. No Gráfico 4, é possível observar a variação de tais índices em função de uma taxa base, estipulada em 1994.

Índices de Preços para a Agricultura no Estado de São Paulo

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Fonte: IEA/CATI – SAAESP

Gráfico 4: Índice de Preços para a Agricultura no Estado de São Paulo entre janeiro de 2008 e abril de 2009

Para facilitar a interpretação do gráfico, a análise será feita em duas partes, uma que relaciona os índices dos preços recebidos pela produção agrícola, ou seja, aqueles formados pelo mercado consumidor de produtos agropecuários e do qual deriva a renda dos produtores; e outra que relaciona os índices dos preços pagos pelos produtores no acesso aos insumos que possibilitam essa produção, índices nos quais os produtores agrícolas constituem o mercado consumidor e que evidenciam seus gastos.

3.1.1 IPRA, IPRV e IPR

O Índice de Preços Recebidos por Produtos Animais (IPRA) é formado pelo preço do leite, de ovos, aves, bovinos e suínos; o Índice de Preços Recebidos por Produtos Vegetais (IPRV), pelo algodão em caroço, amendoim em casca, arroz em casca, banana, batata, café beneficiado, cana-de-açúcar, cebola, feijão, laranja, mamona, mandioca para indústria, milho e soja; e o Índice de Preços Recebidos pelos Agricultores no Estado de São Paulo (IPR) é formado pela articulação do IPRA e do IPRV. Faz-se pertinente ressaltar que tais índices são fortemente influenciados pelo preço de produtos comercializados em grande volume, como algodão, cana-de-açúcar, soja, etc., seja no mercado externo ou com grandes compradores nacionais.

É possível observar (Gráfico 5) que esses três índices variam paralelamente, apresentando um comportamento análogo. Em termos gerais, há elevação gradual até junho de 2008, quando atingem seu ponto mais alto e a partir de então começam a decair até estabilizarem-se por volta de dezembro do mesmo ano.

Esse comportamento mostra que, frente a uma oferta provavelmente constante, a demanda por tais produtos reduziu, levando à sua desvalorização. Essa queda na procura por produtos primários agropecuários demonstra uma retração do mercado consumidor, seja para um consumo direto pela população, seja pelo seu uso como matéria prima industrial.

A indústria é um dos setores econômicos com maior retração de atividades e lucros. Além disso, também percebe-se que a crise provocou maiores impactos no comércio internacional devido à situação mais alarmante nos Estados Unidos e Europa, entre outros. Assim, deduz-se que a queda nos preços pagos pelos produtos agropecuários foi pressionada muito mais por esses agentes do que pelo mercado interno.

3.1.2 IPCMV, IPCMA e IPCMT

Esses índices são compostos pelos preços pagos, na cidade de São Paulo, por produtos consumidos diretamente pela população, com uma frequência praticamente diária. O Índice de Preços da Cesta de Mercado dos Produtos de Origem Vegetal (IPCMV) é formado pelo preço do arroz, feijão, café, açúcar, etc.; o Índice de Preços da Cesta de Mercado de Produtos de Origem Animal (IPCMA), por carnes e derivados, leites e derivados e ovos; e o Índice de Preços da Cesta de Mercado da Cidade de São Paulo (IPCMT) é formado em função do IPCMV e do IPCMA.

Embora a série não esteja completa, apresentando dados apenas até o final de 2008, é nítida a diferença de comportamento entre os índices de preços da cesta de mercado e aqueles que englobam outros produtos, como as commodities. O que se observa (Gráfico 5) é apenas uma estabilização desses índices desde o início da crise, em julho do mesmo ano, e não uma forte queda no primeiro mês de recessão com uma decaída continua dos preços pagos ao produtores, como foi registrado no outros índices. Embora haja uma leve queda registrada no ultimo mês de 2008, as conseqüências da crise para o preço desses produtos, ou seja, para sua procura no mercado, são nitidamente menores do que as analisadas anteriormente, mostrando que a população continua consumindo os principais gêneros alimentícios.

O comportamento desses índices confirma a ideia anteriormente apresentada de que a queda geral nos preços pagos aos produtores agrícolas (IPR) foi muito mais influenciada pelo mercado externo e pela transações de commodities do que por uma possível retração do mercado interno e/ou poder de compra da população.

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Gráfico 5: Variação dos Índices de Preços Recebidos pelos Agricultores no Estado de São Paulo

3.1.3 IPP, IPPF e IPPD

O Índice Geral de Preços Pagos pela Agricultura Paulista (IPP) é composto pelo valor cobrado dos agricultores pelos insumos que viabilizam essa produção, ou seja, ele relaciona-se com os custos de produção e manutenção da atividade agropecuária. Um dos índices que compõe o IPP é o Índice de Preços de Insumos Adquiridos Fora do Setor Agrícola (IPPF). Esse índice é formado em função dos preços de tratores, por exemplo, ou de qualquer outro bem de produção que seja oriundo de outro setor da economia (secundário ou terciário) e cuja compra implique em transferência de capital para outras atividades que não a agrícola. Ou seja, esse é um índice que relaciona o quanto a produção agrícola, bem como seu crescimento ou retração, pode impactar ou variar em função da saúde da atividade industrial.

Outro índice que interfere no IPP é o Índice de Preços de Insumos Adquiridos Dentro do Setor Agrícola (IPPD), o qual é formado em função do preço de todo tipo de insumo oriundo do próprio setor, tais como sementes ou fertilizantes orgânicos. Essas trocas relacionam-se com o quanto a produção agrícola é importante para movimentar o este tipo de atividade, sendo ao mesmo tempo produtora e consumidora dentro desse setor.

Estima-se que o IPPD corresponde a 18% dos gastos com a produção agrícola, enquanto que o IPPF gira em torno de 55%. Ambos somam 73% dos gastos totais dos produtores agrícolas, sendo os outros 27% referentes ao pagamento de trabalhadores ou à contratação de serviços específicos.

Analisando o gráfico 6 é interessante observar que tais índices variaram menos que os índices de preços recebidos. O IPP e o IPPF apenas reduziram sua taxa de crescimento a partir do inicio da crise e só apresentaram queda, tênue e gradual, a partir de outubro de 2008. O IPPD, por sua vez, mostrou-se mais sensível e começou a cair desde julho do mesmo ano e, a partir de então, demonstrou um comportamento instável.

Sem profundo conhecimento das atividades agrícolas e dos períodos de safra e entressafra das principais culturas paulistas, é difícil determinar até que ponto essas inesperadas elevações do IPPD em outubro de 2008 e janeiro e abril de 2009 foram ou não influenciadas por fatores sazonais inerentes dessa atividade. Independente disso, é possível perceber uma tendência geral de queda desse índice, mostrando assim uma retração da atividade agropecuária, a qual acarreta em menor compra de insumos e assim de seus preços também.

Quanto ao IPPF, e por conseqüência ao IPP, é interessante destacar que, embora apresentem uma tendência de queda entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, tais índices começaram a cair depois de alguns meses de queda do IPR, e não o fizeram na mesma proporção. Isso mostra que, mesmo em um primeiro momento de retração, os agricultores mantiveram seu consumo de insumos, ou que, pelo menos, continuaram capazes de pagar os mesmos valores por eles.

Isso demonstra certa higidez do setor em São Paulo pois se apresentasse uma grande fragilidade ou dependência exclusiva do mercado internacional (principal afetado pela crise) esses índices seriam mais sensíveis ao cenário econômico atual.

3.1.4 (IPR/IPP) e (IPR/IPPF)

O (IPR/IPP) é um índice que correlaciona os preços recebidos pelos agricultores e aqueles pagos pelos mesmos. Em outras palavras, esse é um índice que apresenta a razão entre os custos e os lucros dessa atividade e está diretamente ligado a rentabilidade da produção agropecuária. O (IPR/IPPF) é semelhante, mas apenas considera os custos de produção referentes a insumos adquiridos fora do setor, então, varia muito mais em função da situação de outras atividades econômicas além de demonstrar, de certa forma, qual a porcentagem da receita agrícola é transferida para outras atividades.

A principal observação a ser feita a partir desses índices é que ambos caíram de forma quase análoga desde o inicio do período de crise, mostrando assim o quanto a rentabilidade das atividades agropecuárias ficou comprometida. Tal comportamento mostrou-se mais evidente entre julho e outubro de 2008, quando o IPR já apresentava queda considerável, embora o IPP e o IPPF continuassem a subir. Depois disso, esses índices estabilizaram-se, apresentando inclusive um leve aumento em fevereiro de 2009.

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Gráfico 6: Variação dos Índices de Preços Pagos pelos Agricultores no Estado de São Paulo

3.1.5 Consequências Gerais

Esses índices não demonstram qual tipo de produto interferiu positiva ou negativamente na situação do setor agropecuário do estado de São Paulo, e, por tanto, faz-se necessária uma interpretação mais aprofundada dos efeitos da atual crise econômica a partir de outras informações sobre a crise e sobre a agropecuária paulista.

Por ser um dos estados de produção agrícola mais diversificada, esse setor, em São Paulo, conseguiu absorver relativamente bem os impactos da crise. Mesmo que as exportações ou a venda de matéria prima para as indústrias brasileiras tenham sofrido abalo significativo, a crescente demanda do setor sucroalcooleiro por uma produção crescente e o abastecimento do mercado consumidor de gêneros alimentícios básicos garantiu certa estabilidade.

São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, sendo responsável por 50 a 60% da produção nacional. Embora a crise tenha afetado a atividade, inclusive pela falta de crédito e de liquidez para investir na entressafra, a produção nacional de cana, que subiu 13,9% em 2007/2008 em relação à safra anterior, deve crescer mais 7,6% em 2008/2009; crescimento este que incidirá principalmente sobre São Paulo e que permitiu que a queda das negociações de gêneros agrícolas produzidos no estado fosse amortecida.

3.2 Atividades Comerciais

São Paulo desponta como o estado da federação com o maior setor terciário, tanto em termos de variedade de produtos comercializados e serviços prestados quanto em volume total dessas relações em reais. A análise dos impactos sofridos pelo comércio no estado de São Paulo será feita a partir da análise dos índices de volume dessas negociações, os quais são estabelecidos em função de uma taxa base (10) fixada em 2003. O recorte deste estudo foi feito sobre o total, em reais, comercializado dentro do estado e não sobre as relações de comércio exterior ou com outras unidades da federação, demonstrando assim muito mais a saúde deste mercado bem como o poder de compra da população do que o lucro obtido por empresas e comerciantes diversos.

O gráfico 7 demonstra a variação desse índice para diversos tipos de produto de expressão significativa no comercio paulista:

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Gráfico 7: Variação dos Índices de Volume de Vendas no Estado de São Paulo

Mesmo contendo muitas informações, tanto a ponto de dificultar sua interpretação, é possível fazer algumas observações interessantes a partir do gráfico. A principal delas é que, diferente de variações encontradas na indústria ou na agricultura, esses índices não apresentam, conjuntamente, um momento determinante onde se inicia uma queda abrupta do volume total comercializado no estado. Embora, ao analisar-se o espectro total do gráfico, seja possível perceber uma tendência geral de redução desse volume, não há um momento marcante onde um comportamento inicial predominante tome nitidamente uma nova direção.

Observando com mais cautela, é possível perceber que, se há algum momento em que a tendência de queda torna-se ligeiramente mais evidente, ocorre por volta de setembro de 2008, enquanto que, para as atividades produtivas como um todo, essa retração teve inicio em julho do mesmo ano.

Outro ponto que chama atenção no gráfico refere-se ao índice dos supermercados e hipermercados, em amarelo, o qual praticamente não sofreu alteração desde o início da crise. Tal índice, que reflete principalmente o consumo de alimentos por parte da população, permanece constante, indicando que não foram cortados gastos do orçamento doméstico com esses gêneros, muito provavelmente nem mesmo reduziu-se o consumo de produtos de maior valor agregado, já que o volume total, em reais, quase não se alterou.

É possível perceber que tecidos, vestuário e calçados; combustíveis e lubrificantes; e móveis e eletrodomésticos tiveram as maiores variações de seus índices, enquanto os índices de informática e comunicação; livros, revistas, jornais e papelaria; e farmácia e perfumaria tiveram seu volume total de vendas muito pouco afetado pela crise. Vale lembrar que estes são produtos que, embora necessários, podem ser trocados por similares de valor muito mais baixo ou até mesmo cortados. São itens passivos de substituição quando há necessidade de cortes no orçamento domestico ou pessoal, no entanto, seu consumo permaneceu praticamente inalterado desde o inicio da crise econômica.

Para possibilitar uma visão mais ampla das conseqüências do momento atual para o comércio em São Paulo, foi elaborado um gráfico que sintetiza as informações a cima. Neste gráfico ficam evidentes os índices para o setor de carros, motos e autopeças; materiais de construção e, por fim, mercado varejista, o qual, diferente dos outros dois, baseia-se em um comércio constante e freqüente, principalmente de produtos de baixo ou médio valor unitário.

 

Resumo das Variações nos Índices de Volume de Vendas em São Paulo

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Gráfico 8: Síntese da Variação dos Índices de Volume de Vendas no Estado de São Paulo

A partir da analise desse gráfico é possível observar que o mercado varejista, embora apresente queda nítida principalmente a partir de setembro de 2008, tem uma variação mais tênue e gradual do que os outros dois setores. Isso indica que o efetivo poder de compra da população não foi fortemente abalado e que, de forma geral, as pessoas continuam mantendo um padrão de vida e consumo muito semelhante ao anterior à crise.

O mercado de carros, motos e autopeças, embora apresente tendência de queda desde o inicio da crise, conta com picos aparentemente inesperados, mas que podem ser explicados pelas medidas econômicas do governo que buscam amortecer uma possível redução do volume de compra por parte da população, o que levaria a um agravamento da situação atual. Como principal responsável desse comportamento anômalo, pode ser citada a redução no IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), que levou a uma redução do preço de carros e motos sem que isso acarretasse em uma redução do valor arrecadado pelas indústrias com isso, incentivando o comércio e evitando uma recessão na atividade industrial e, consequentemente, uma onda de demissões.

O setor de materiais de construção, o qual é movimentado majoritariamente pela construção civil e por obras públicas, é o que apresenta mais forte tendência de queda, talvez por não contar com medidas efetivas de incentivo por parte do governo. Houve ainda a redução do fundo de participação dos municípios, um sistema de transferência de renda a partir do IPI, o qual, ao ser reduzido, reduziu também a renda de algumas cidades o que pode ter acarretado em uma redução das obras publicas por elas realizadas.

De uma forma geral, o que é possível perceber no comércio do estado de São Paulo, e que é tendência para o país como um todo, é que o impacto foi maior para produtos de alto valor unitário, e/ou que dependem de crédito e financiamento para sua compra. Dessa forma, é possível inferir que o impacto nas atividades comerciais se deu principalmente pelo medo, seja dos consumidores de não serem capazes de arcar com prestações e dividas, seja de instituições financeiras que reduziram a disponibilidade de crédito para a população.

Outro dado pertinente neste cenário é o fato do comércio informal, com vendas de 50 a 60 reais, ter sido o único que registrou crescimento, de 8% da clientela e 2% de faturamento. Durante os últimos 2 anos, tem havido uma mudança no perfil de consumidores desses produtos, os quais hoje atingem à classe B também. As mudanças que parecem estar ocorrendo nos padrões de consumo devido à crise acabam por consolidar essa nova tendência.

Embora esta seja uma atividade que não contribui diretamente com impostos e fortemente repreendida pelo poder público, em tempos de crise configura-se, para muitas famílias, como uma solução. O comércio informal funciona como um amortecedor para a economia e relações comerciais cotidianas, o que permite que a população continue tendo acesso aos mais variados bens de consumo além de garantir a renda de uma classe social que poderia ter seu nível de vida fortemente comprometido em tempos de recessão econômica.

3.3 Setor Financeiro

O Brasil é uma das maiores economias emergentes do mundo e, com isso, possui menor vulnerabilidade externa que demais países periféricos, sobretudo pelo seu acúmulo de reservas internacionais e sua condição de credor externo líquido. A cidade de São Paulo abriga a bolsa de valores do país, a BOVESPA, sendo, portanto, a análise de tal setor pertinente à este estudo.

Enquanto muitos países já sentiam em seus índices financeiros o efeito da falta de confiança do mercado e da consequente queda dos investimentos, o IBOVESPA se mantinha com desempenho positivo, sofrendo um impacto de menor intensidade; ele só passou a acompanhar as bolsas internacionais no segundo semestre de 2008, quando a crise entrou em sua fase aguda, vide Gráfico 9. É curioso notar que o volume de negociações aumenta com a queda no índice e, com a sua recuperação, sofre sensível descida.

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Fonte: BOVESPA

Gráfico 9: IBOVESPA e volume de negociações na bolsa

É notável a retomada do Índice a partir de março de 2009, tendo as ações que mais perderam valor no ano passado liderando as valorizações, são elas: as de bancos pequenos, construtoras, frigoríficos e usinas de açúcar e de álcool. São setores prejudicados pela contração no crédito, aperto na liquidez e problemas de geração de caixa, mas que recebeu do governo programas específicos para reverter esses problemas (Folha de São Paulo, 15/06/2009a).

O Brasil possui um dos melhores desempenhos em meio às atuais turbulências, o que lhe confere confiabilidade. Tal cenário não se restringe à ele, no geral, as economias emergentes apresentam-se mais resilientes. Os mercados de ações nesses países estão em fase de otimismo em relação à recuperação da economia global, que acredita-se estar sendo liderada pelo mundo em desenvolvimento, especialmente a China.

Embora esses mercados ainda estejam muito abaixo dos picos que alcançaram há mais de um ano, os investidores estão novamente vendo suas chances de crescimento como melhores que as dos Estados Unidos ou da Europa. A produção industrial vem se recuperando na China, e o mesmo ocorre com as vendas de carros na Índia e o varejo no Brasil (Folha de São Paulo, 15/06/2009b).

Em relação ao valor das commodities agrícolas e minerais, a desaceleração da atividade econômica global provocou redução em seus preços após um boom em meados de 2008, como é exemplificado com o preço do petróleo no Gráfico 10, variando com a retração da demanda. Atualmente, verifica-se sua recuperação e um ciclo de alta nesses produtos primários de exportação.

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Fonte: BCB

Gráfico 10: Exemplificação de queda no valor das commodities

Outro reflexo na economia diz respeito à taxa básica de juros, que, em favor do estímulo ao consumo pela dimuinuição do custo do crédito, sofreu sucessivos cortes pelo Banco Central desde o início de 2009, totalizando 4,5 ponto percentual e chegando à 9,25% em junho (Folha de São Paulo, 19/06/2009). Esta medida refletiu-se nas taxas de juros praticadas ao empréstimo pessoal por instituições bancárias, que, conforme o Gráfico 11, sofreram grande diminuição e, sobretudo uma forte queda no fim do ano de 2008, acredita-se, devido ao receio das tradicionais fortes vendas dessa época do ano sofrerem grande retração.

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Gráfico 11: Taxas de juros repassadas ao consumidor

Como podemos observar no Gráfico 12, o consumo veio sofrendo queda em fins do ano de 2008, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que mede a variação nos custos dos gastos; assim como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que cruza os parâmetros de pesquisas de preços com o de orçamento familiar – ambos calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Gráfico 12: Variação de preços ao consumidor no estado de São Paulo

Em uma análise conjunta com o Gráfico 13, de variação dos índices inflacionários do mesmo período, pode-se concluir que através da crescente da inflação do país, os preços tenderam a aumentar, enquanto o consumo sofreu retração.

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Gráfico 13: Índices inflacionários

O que vem ocorrendo atualmente, em meados de 2009, é que o custo do crédito está inclinado à queda, como mostra o Gráfico 14, onde o percentual da consideração dele como “mais caro” exibe diminuição, assim como o “muito mais caro”. Além disso, o acesso ao crédito expõe propensão à facilitação do consumo, como mostra o Gráfico 15, onde o percentual de classifcação como “mais fácil” está crescendo, enquanto que o “mais difícil”, dimunui.

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Fonte: FIESP

Gráfico 14: Variação no custo do crédito para o consumidor no estado de São Paulo

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Fonte: FIESP

Gráfico 15: Variação no acesso ao crédito para o consumidor no estado de São Paulo

3.4 Setor Industrial

O estado de São Paulo caracteriza-se, historicamente, por uma grande concentração industrial, vide Mapa 1, com uma grande diversidade de tipos e setores.

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Fonte: IBGE

Mapa 1: Ilustração da concentração industrial no estado de São Paulo

Apesar da desconcentração experimentada sobretudo a partir dos anos 90, em um processo que ainda está em curso, o conhecido ABC na Grande São Paulo (nos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) é responsável pela metade da produção nacional: 45,8% em 2005 (de acordo com a Anfavea e a Abeiva – Associação as Empresas Importadoras de Veículos).

O setor automobilístico é um dos principais segmentos econômicos do Brasil, comprovado pela participação em 11,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, refletindo a importância que também detém no restante do mundo. Dessa forma, o aquecimento ou a retração no setor incidem sobre segmentos relacionados, como os fornecedores de matérias-primas e sua rede de comercialização e serviços associados. Além disso, o seu desempenho influencia na contratação de mão-de-obra.

A produção nacional, e consequentemente na região paulista, apresentou forte queda no final do ano de 2008 e início de 2009 (14,2% em relação ao mesmo período de 2008) sob influência do mau desempenho das exportações – por conta da retração da demanda nos principais mercados do mundo, caíram 47,4% – bem mais intensa que no mercado interno, que superou a crise e se igualou ao desempenho do ano passado (Valor Econômico, 04/06/2009). Os dados podem ser visualizados no Gráfico 16.

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Gráfico 16: Mudanças na produção e venda de automóveis

Atualmente, o setor demonstra recuperação, como também pode ser visto no Gráfico 16. De acordo com o IBGE, o principal impulso para a recuperação em São Paulo veio da indústria automobilística, que registra bons índices nos quatro primeiros meses do ano, depois de uma profunda queda no final de 2008.

Em uma escala menor de análise, observando o desempenho geral das atividades e da economia do estado de São Paulo, percebe-se que, como reflexo da forte queda da atividade econômica nos países desenvolvidos, principais importadores de produtos industrializados brasileiros, no mesmo período, no balaço comercial, as exportações e também as importações figuraram perdas e recente tendência à volta da normalização (Gráfico 17), retratando a queda do consumo global e nacional, respectivamente. Esta é apontada pela FIESP no estado de São Paulo para -37,5% do primeiro semestre de 2009 em comparação com o mesmo de 2008, assim como uma contração de 22,5% das exportações totais.

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Gráfico 17: Retração do mercado refletido nas importações e exportações do estado de São Paulo

O setor que apresentou maior encolhimento no estado desde o ano passado, junto com a mineiração a nível nacional, foi o da metalurgia, com maior queda registrada desde 1991. Esse acontecimento pode ser percebido no Gráfico 18, onde, através do Índice de Nível de Atividade [Industrial], calculado pela FIESP, mostra a forte descendência verificada desde outubro de 2008, época em que a crise internacional acentuou-se. Vale ressaltar que o setor fornece um insumo básico bastante atrelado ao mercado externo, já que está presente em grande parte dos produtos exportados pelo país, cuja venda teve grande queda.

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Fonte: FIESP

Gráfico 18: Retração do setor metalúrgico no estado de São Paulo

4. Aspectos Sociais

As oscilações sofridas pelos diversos setores da economia no estado de São Paulo possuem efeitos diretos para a população: se o desempenho e, consequentemente, a lucratividade caem, busca-se cortar gastos, dentre eles, a mão-de-obra.

O Gráfico 19 mostra como ao longo dos últimos três anos o nível de emprego no país oscilou e, em uma comparação sazonal com o atual ano de 2009, nota-se que este apresenta comportamento atípico em relação aos anteriores, com níveis abaixo de uma suposta normalidade. Pode-se ver, inclusive, que, no próprio mês de outubro, houve uma queda além da característica do período, com persistência até o mês de fevereiro.

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Gráfico 19: Comparação na variação sazonal do nível de emprego

O setor industrial, o mais atingido, liderou o número de demissões no país, enquanto o comércio teve uma redução no número de postos de trabalho menor; já os setores que empregaram no período foram o de serviços e, acima dele, o de construção civil (Gráfico 20).

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Gráfico 20: Comparação da empregabilidade dos setores da economia

O Gráfico 21 reforça o nível de empregabilidade no setor da construção civil, já que este teve destaque no número de empregos criados. Além disso, vale observar que o setor recebeu incentivos do governo e a quatidade de mão-de-obra contratada não reflete um aquecimento, mas a continuidade de projetos que já estavam em andamento antes de a crise econômica internacional atingir o Brasil (Folha de São Paulo, 11/05/2009). Observa-se que mesmo sendo o setor mais próspero, sofreu forte queda no final do ano de 2008, quando a crise obteve seu ápice, e atualmente o nível retoma o crescimento.

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Gráfico 21: Empregabilidade no setor mais próspero da economia paulista

Dessa forma, o estado de São Paulo apresentou dados para o desemprego acima da média nacional, devido às indústrias, sobretudo a metal-mecânica e a de produção de maquinário e veículos da região metropolitana, que potencializaram seus números de demissões, como pode ser visto no Mapa 2, com dados de maio de 2009. Eles mostram que na Grande São Paulo o índice do desemprego teve uma média de -1,26, enquanto que no interior do estado foi de 2,15, em uma média geral de 0,80.

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Fonte: FIESP

Mapa 2: Espacialização do desemprego no estado de São Paulo

As quedas observadas nos municípios da região metropolitana explicam-se pela queda em cerca de 30% no setor de veículos e de máquinas e equipamentos, assim como as mais brandas nos de produtos químicos, borracha e plástico. Já as altas baseam-se sobretudo nos produtos alimentares e nos biocombustíveis, consumidos prioritariamente no mercado interno.

A crise afetou a indústria sucroalcooleira, mas o biocombustível, além de manter o status de promessa internacional, fincou raízes no mercado doméstico, com o álcool consolidando-se como combustível nos últimos anos. Ainda, outros mercados para a cana-de-açúcar são o da geração de eletricidade pela queima do seu bagaço, que está em franca expansão, e o do açúcar, que vive um bom cenário onde a demanda é maior que a oferta. (Folha de São Paulo, 21/06/2009).

O Mapa 3 expõe a concentração de tal setor no estado de São Paulo, quando comparado ao restante do território brasileiro, e o Gráfico 22 indica como o setor gera empregos enquanto os demais estão demitindo, no contexto da crise; assim como faz a relação sazonal evidenciando sua maior expansão frente aos outros setores.

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Fonte: IBGE

Mapa 3: Distribuição das plantações e usinas de cana-de-açúcar

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Fonte: FIESP

Gráfico 22: Setor sucroalcooleiro e os empregos gerados

A taxa de desemprego em São Paulo em abril de 2009 ficou em 15%, ante 14,9% de março, sendo que o contingente de desempregados foi estimado em 1,56 milhão de pessoas, 17 mil a mais do que em março – quando o indicador teve o maior aumento verificado em toda a série, calculada desde 1985. A estimativa para os próximos meses é de estabilidade nas demissões no cenário geral. (Folha de São Paulo, 29/04/2009).

São Paulo, contudo, é o estado que deve menos sentir a queda do repasse das transferências obrigatórias do governo federal (com 2% do valor contingido do orçamento de 2009) e a menor arrecadação de impostos, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Prestados (ICMS). Além disso, por investir muito, tem a facilidade de cortar despesas, assim como dispõe de caixa e tem maior margem para dívida com organismos internacionais.

Assim sendo, o entendimento da distribuição espacial do desemprego no estado de São Paulo pode ser entendido através da análise da Geomorfologia das diversas regiões que o compõe, assim como da aptidão agrícola e consequente suscetibilidade à erosão dos solos.

Ao longo do litoral paulista, a domínio morfoestrutural é o de cinturões móveis neoproterozóicos, apresentando, portanto, relevo bastante acidentado e declivoso de serras e planaltos; enquanto que na direção do interior do continente, observam-se as bacias e coberturas sedimentares fanerozóicos, em vista disso, mais plano (Mapa 4).

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Fonte: IBGE

Mapa 4: Evidência para as mosfoestruturas do estado de São Paulo

Por conseguinte, é possível melhor entender os mapeamentos gerados para tal localidade (Mapas 5 e 6), apontando as terras interioranas como mais indicadas ao cultivo e plantações, enquanto que o litoral, historicamente, foi ocupado por maior concentração de povoamentos e atividades urbano-industriais.

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Mapa 6: Mapa de apidão agroambiental

Os reflexos de tais atividades desenvolvidas no território do estado paulista podem ser observados no mapeamento de uso e cobertura desenvolvido para o Domínio Mata Atlântica (Mapa 7), onde nota-se a grande devastação pela qual passou e ainda vem passando o referido bioma, que encontra-se mais preservado justamente onde o limitante topográfico impõe como restritivo à ocupação. Vê-se claramente a mancha urbana na região metropolitana de São Paulo e seu interior com predomínio de gramíneas ou coberturas herbáceas.

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Mapa 7: Uso e Cobertura do Domínio Mata Atlântica

5. Casos Emblemáticos

Alguns casos que afetaram diretamente a população no estado de São Paulo foram emblemáticos. Pode-se citar a Embraer e suas fornecedoras, a General Motors, a Wolkswagen e a Mercedes-Benz. Como já visto anteriormente, São Paulo possui um polo de montadoras e essas empresas dependem muito do mercado externo. Como a receita de exportações diminuiu, a conta foi passada aos trabalhadores.

5.1 Embraer e Suas Fornecedoras

A Embraer, como é conhecida a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A., é uma grande empresa privada brasileira produtora e exportadora de aeronaves para todo o globo com sede em São José dos Campos. Já vendeu mais de 4900 aviões que operam em 78 países, nos 6 continentes e entre 1999 e 2001 alcançou o posto de maior exportadora brasileira.

No dia 19 de fevereiro de 2009, a Embraer anunciou o corte de 4273 funcionários, que representa cerca de 20% do efetivo. A justificativa dada foi que 90% das receitas da empresa são de exportação e, como o mercado externo retraiu muito com a crise global, a solução dada foi a demissão de parte dos trabalhadores. No quarto trimestre de 2008, a Embraer registrou um prejuízo de R$ 40,6 milhões.

O Sindicato dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo entrou com um recurso no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para que as demissões fossem consideradas ilegais. O Sindicato entrou em contato, inclusive, com o presidente Lula para reaver a decisão mas o Tribunal Superior do Trabalho (TST) alegou que “a empresa está em seu direito de demitir”. Vejamos a seguir dois gráficos disponibilizados pela própria Embraer em seu portal.

Evolução anual do lucro líquido – milhões de reais

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Fonte: Site da empresa

Gráfico 23: Evolução do lucro líquido da Embraer

Como podemos ver através do Gráfico 23, apesar do prejuízo registrado no quarto trimestre de 2008, a Embraer voltou a registrar lucro, apesar de ainda muito abaixo do triênio 2005, 2006 e 2007. Apesar disso, também vale ressaltar que o lucro registrado foi apenas relativo ao primeiro trimestre de 2009, concluímos que ele tende a aumentar com a superação da crise. Entretanto, esse prognóstico não foi o suficiente para a Embraer manter todos seus trabalhadores empregados, como pode-se observar pelo gráfico abaixo.

Evolução do número de empregados ao longo dos anos

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Fonte: Sita da empresa

Gráfico 24: Evolução do número de empregados da Embraer

Algumas fornecedoras diretas da empresa também demitiram trabalhadores. A Sobraer, que produz fuselagens para os jatos da Embraer, já demitiu 200 funcionários desde o começo do ano. A Status, que tinha 64 empregados e produzia alguns componentes de aviões, demitiu 52. Já a Winnstal, desde o final do ano passado, já demitiu 27 trabalhadores de um efetivo de 127.

5.2 General Motors

A General Motors (GM) é uma empresa multinacional com sede em Detroit, nos Estados Unidos, que foi fundada em 1908. A fábrica mais importante da GM no Brasil está localizada em São José dos Campos. Durante muitos anos, a GM foi o símbolo dos anos dourados do capitalismo, em uma época de preços baixos do petróleo, e de explosão do American Way of Life. Nos anos 1950, alcançou 46% do mercado automobilístico norte-americano. Até pouco tempo, a montadora automobilística era considerada a maior do mundo, mas seu posto foi desbancado pela Toyota após a crise mundial.

Em outubro de 2008, o mercado presenciou uma queda de 32% na venda de veículos leves devido à forte queda de confiança do consumidor e também da queda dos financiamentos. Só a General Motors teve uma queda de 45% nas vendas deste tipo de automóvel. Em 20 de novembro de 2008, a GM anunciou uma queda de 1 bilhão de dólares em seu valor de mercado, demonstrando o fim de uma era do capitalismo iniciada sobretudo após a Segunda Guerra.

No Brasil, no dia 12 de janeiro, a empresa anunciou a dispensa antecipada de 744 funcionários temporários da fábrica de São José dos Campos, um mês depois do Governo Federal reduzir o IPI. No dia 1º de junho, a GM pediu concordata ao governo estadunidense e hoje está completamente estatizada. A montadora anunciou uma dívida de 176 bilhões de dólares e provavelmente vai fechar 11 fábricas. Entretanto, como o pedido foi recente ainda não foi possível estabelecer quais foram os impactos no Brasil.

5.3 Wolkswagen e Mercedes-Benz

A Wolkswagen é uma empresa alemã fundada na década de 30 e possui 5 fábricas no Brasil, sendo 3 no estado de São Paulo (São Bernardo do Campo, São Carlos e Taubaté). Em janeiro, a empresa registrou uma queda de 15% das vendas na Europa. Em fevereiro, foi anunciado o corte de 16 mil e 500 funcionários temporários no mundo inteiro. No Brasil, segundo os diretores das filiais brasileiras, ninguém seria demitido. A empresa possui um efetivo de 12 mil funcionários no Brasil e, por enquanto, não registrou nenhuma demissão.

A Mercedes-Benz, por sua vez, deu férias coletivas a 7 mil funcionários após um declínio de 24% de vendas de caminhões e 35% na venda de ônibus. Em março, a empresa começou a receber adesões ao Plano de Demissão Voluntária, uma espécie de autodemissão feita, voluntariamente, pelos funcionários, para que ela não precise pagar todos os direitos trabalhistas dos que forem demitidos, numa espécie de negociação.

6. Entrevistas – A Percepção da População

Além de todos os aspectos que podemos observar na variação dos índices de produção, comércio, consumo e empregos, é interessante observar a forma como a população que vive em São Paulo percebe que a crise os afeta. Para tanto, foram realizadas 13 entrevistas com moradores da capital. O universo é pequeno, portanto as informações a seguir não possuem valor estatístico, mas dá a dimensão da impressão de alguns paulistanos sobre a crise mundial. As perguntas foram simples e objetivas, visto que o objetivo não era que o entrevistado dissertasse sobre o assunto, apenas tecesse algum breve comentário sobre suas impressões em relação a crise.

É possível observar uma grande desigualdade sócio-econômica-espacial em São Paulo, sobretudo na capital. Da mesma forma que a condição de vida é distinta, a própria percepção sobre a crise, sob alguns aspectos, também é. Com o intuito de observar as diferenças produzidas pelo espaço geográfico, as entrevistas foram feitas em duas áreas fisicamente próximas mas com muitas diferenças socioeconômicas e culturais: Vila Gustavo e Consolação.

O bairro Vila Gustavo se localiza na Zona Norte de São Paulo, no distrito do Tucuruvi. É um bairro predominantemente residencial de população de classe média e classe média-baixa. Já o distrito Consolação se localiza na região central da cidade, nas redondezas da Avenida Paulista, o mais importante centro financeiro e cultural do Brasil. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Consolação é 0,950, equivalente ao índice dos Estados Unidos, enquanto que o do Brasil é 0,807.

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Mapa 8: Localização da Consolação, em azul, e de Vila Gustavo, em vermelho

Em primeiro lugar, quisemos saber o perfil do entrevistado. Para isso, perguntamos nome profissão, idade, o acesso a informação, etc. Entretanto, a seguir veremos alguns pontos que foram mais fundamentais na entrevista. A primeira pergunta relevante se insere no perfil, é a escolaridade do entrevistado. Pelas respostas, já foi possível observar a grande desigualdade sócio-espacial que São Paulo possui. Enquanto a maior parte dos entrevistados na Consolação possui superior completo ou incompleto, em Vila Gustavo a maior parte possui entre Ensino Fundamental Incompleto e Ensino Médio Completo.

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Gráfico 25: Escolaridade dos entrevistados

Em seguida, a ideia foi saber se o entrevistado sabe da existência da crise econômica mundial. Como podemos observar nos gráficos abaixo, todos sabem da existência da crise. Podemos observar, assim, que apesar de nem todos terem alta escolaridade, todos são bombardeados constantemente pela mídia e, muitas vezes, afirmam que “a crise está braba”, ou seja, reproduzem o discurso dos meios de comunicação.

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Gráfico 26: Informação dos entrevistados sobre a existência da crise

Em terceiro lugar, foi perguntado para o entrevistado se ele ou sua família foi afetado diretamente pela crise. A maior parte das pessoas foi afetada de alguma forma sem distinção da localidade da entrevista. Dentre as onseqüências, os entrevistados citaram, principalmente o desemprego e o aumento dos preços.

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Gráfico 27: Informação se o entrevistado ou sua família já sentiu a crise

Em seguida, foi perguntado se o entrevistado ou alguém que ele(a) conhecia perdeu o emprego por causa da crise. Com a resposta, notamos que a crise, apesar de ter sido criada pelos banqueiros, sempre arrebenta do lado mais fraco, ou seja, os funcionários que saem prejudicados no final das contas. Praticamente todos os entrevistados conheciam alguém que foi demitido recentemente, ás vezes até ele(a) próprio(a).

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Gráfico 28: Informação se algum conhecido do entrevistado perdeu o emprego

Finalmente, a última pergunta foi para testar a perspectiva otimista ou pessimista do entrevistado. Para tanto, perguntamos se ele(a) acha que o Brasil passará bem pela crise. A maioria foi otimista em ambos os bairros. O mais curioso é que ninguém diz “não”, no máximo que vai depender de alguns fatores. Isso revela um otimismo geral na população brasileira (ás vezes até um pouco prejudicial).

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Gráfico 29: Perspectivas se o Brasil supera a crise

7. Conclusão

É notável a participação de São Paulo na economia global, assim como a forte dependência do estado em relação ao mercado internacional. Através do estudo da formação econômica e espacial, das variações dos índices e dos casos emblemáticos, foi possível observar como uma crise internacional afeta diretamente São Paulo. O estado, apesar de ser um representante de peso na produção de riquezas e no PIB brasileiro, se mostra fragilizado frente à quebra global.

Isso mostra que, cada vez mais, é necessário solidez e transparência não só no mercado financeiro mas em todas as trocas comerciais. Assim, os agentes podem fiscalizar e regular de forma racional a economia, trazendo confiança para os consumidores e evitando crises causadas por agentes financeiros que só querem reproduzir capital, que afetam a economia real diretamente e seus trabalhadores, sobretudo em São Paulo, estado tão inserido na atividade global.

Como podemos perceber através deste trabalho, as atuais redes do comércio internacional não são multilaterais. Pelo contrário, são ditadas pelos países grandes, numa lógica de concentrar os lucros e dividir os dividendos. Propomos que a discussão sobre uma nova globalização seja feita, com base nos interesses coletivos da sociedade em torno de uma causa de bem-estar dos indivíduos, ambientalmente correta e com um Estado que regule as farras especulativas e garanta os direitos básicos para a sobrevivência dos cidadãos de imediato. Para que os trabalhadores não paguem a conta de uma crise criada pelos banqueiros.

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