terça-feira, 30 de junho de 2009

2.2 A Economia Cafeeira

 

Concomitante à decadência da produção cafeeira do Vale do Paraíba, tem-se a ascensão em São Paulo, o famoso “Oeste Paulista”. As causas foram diversas, dentre elas podemos citar a disponibilidade de terra fértil (terra roxa) e clima favorável, predomínio da grande propriedade, presença de produtores com mentalidade e visão comercial burguesa e reinvestimento produtivo dos lucros.

A produção cafeeira era assentada na grande propriedade, monocultura, produção voltada para o mercado externo, mão-de-obra escrava, mas esta logo seria substituída pelos trabalhadores assalariados (muito mal remunerados) imigrantes, principalmente italianos e espanhóis. Esses trabalhadores têm uma grande importância para esse estado, principalmente na formação cultural e na construção da identidade do povo paulista, além de uma importância política, já que esses imigrantes foram os primeiros a organizar os trabalhadores na luta pelos seus direitos e pela destruição da sociedade capitalista. A maioria desses trabalhadores era composta por militantes anarquistas. Eles foram responsáveis pela fundação dos primeiros sindicatos, das organizações das primeiras greves (como a grande Greve Geral de 1917) e piquetes, além da construção de CCSs (Centro de Cultura Social), escolas livres e teatros populares. Por outro lado, muitos dos principais “capitães do parque industrial” da cidade de São Paulo eram imigrantes.

Os grandes lucros gerados pela produção do café, associado ao dinamismo e à visão comercial, geraram grandes transformações espaciais e econômicas em São Paulo. Com o aumento da produção, há uma necessidade de escoamento e os empresários e cafeicultores passam a investir na rede ferroviária. A primeira a ser construída foi a “Estrada de Ferro Inglesa”, que uniu a Capital ao Porto de Santos.

As estradas de ferro tiveram um papel destacado na historia de São Paulo pois a integração econômica entre os municípios cresceu, além do aumento da mancha urbana da cidade de São Paulo, possibilitou um melhor escoamento da produção e colaborou para uma maior internacionalização da economia brasileira. Esse excedente de capital também foi investido no Porto de Santos, tanto para sua expansão quanto para melhoria, em algumas pequenas indústrias e manufaturas, especialmente a indústria têxtil. Graças à expansão da economia cafeeira, ou do que alguns chamavam de “ouro verde”, no Oeste Paulista, o porto de Santos passou a ser o mais importante do Brasil. “Foi por esse mesmo porto que começaram chegar as maquinarias e as matérias-primas reclamadas pelo parque manufatureiro em gestação.” ( A Cidade de São Paulo, Vol. III, pág. 10).

O café gerou um relativo enriquecimento da população, contribuindo para a elevação do padrão de vida tantos das populações rurais quanto urbanas, o que acabou por gerar um grande acúmulo de capital, condição sine qua non para o surgimento dos primeiros surtos industriais do país. Entretanto, deve-se aqui fazer uma diferenciação quantitativa e qualitativa desse enriquecimento, tendo em vista que ele foi concentrado nas mãos da burguesia cafeicultora.

Um aspecto muito importante da produção cafeeira em São Paulo é a presença de capital estrangeiro (ver tabela abaixo), notadamente inglês. Isso acabou por intensificar esse surto industrial paulista, além de dinamizar a economia, tendo em vista que esses investidores ingleses possuíam uma grande visão empreendedora e grande disponibilidade de capital.  Segundo Pasquale Petroni, a partir dos anos de 1870/1880 São Paulo se tornaria a “Metrópole do Café”, rompendo com a antiga fama de “Burgo dos Estudantes”, fama esse devido à grande importância da Faculdade de Direito.

 

Tipo de Indústria

Proprietários

Brasileiros

Estrangeiros

Têxtil

4

6

Alimentação

6

16

Artigos de Vestuário

8

10

Metalúrgica e Mecânicas

7

8

Gráficas

-

6

Químicas e Farmacêuticas

6

6

Vidros e Cristais

1

12

Diversas

6

18

Total

38

70

Fonte: A Cidade de São Paulo, IBGE, pág. 13.

Durante a ascensão da economia cafeeira os produtores paulistas entram em um clima intenso de otimismo e a produção só crescia. No inicio do século XX, entretanto, o café brasileiro se depara com alguns períodos problemáticos de superprodução. Mas é com a Primeira Guerra Mundial que a situação se agrava. Sendo uma produção voltada basicamente para o mercado externo (majoritariamente europeu) e, estando estes países em guerra, a produção não tinha para onde ser escoada. Alguns anos mais tarde, com a Crise de 29, o Brasil se depara de novo com uma retração na demanda internacional. Esses dois períodos levam tantos os produtores, investidores e o próprio Governo a pensarem em alternativas econômicas para esse modelo.

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